Por Victor Correia
Um acidente envolvendo um balão de ar quente, ontem, deixou oito mortos em Praia Grande, Santa Catarina. O veículo carregava 21 pessoas para um passeio quando pegou fogo e despencou do ar.
Parte dos passageiros e o piloto conseguiram desembarcar antes da tragédia. Duas pessoas ficaram feridas com queimaduras de segundo grau e foram internadas em um hospital da cidade, mas não correm risco de morrer. Outras três também buscaram atendimento médico com ferimentos leves e dores musculares.
A Polícia Civil do estado iniciou uma investigação para apurar se houve algum crime cometido pelo piloto ou pela empresa responsável pelo voo. Em um primeiro momento, ambos possuem os certificados necessários e autorização da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para operar.
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A queda ocorreu por volta das oito horas da manhã de ontem, na região rural de Praia Grande. O local é conhecido pelos passeios turísticos de balão, e apelidado de “Capadócia brasileira”, com até 300 voos por dia operados por mais de 20 empresas. Vídeos que circulam nas redes sociais mostram o balão decolando sob aplausos dos presentes. Pouco depois, porém, um incêndio começou na cesta. Outras imagens mostram o veículo já consumido pelo fogo, que se rompeu e despencou do ar em uma área de mata, próxima a uma cachoeira.
Os detalhes do acidente foram explicados por autoridades catarinenses durante uma coletiva de imprensa em Florianópolis, capital do estado. De acordo com depoimento prestado pelo piloto, que sobreviveu, as chamas começaram com um maçarico utilizado para ligar os queimadores do balão. “Ele foi interrogado e apresentou uma versão a respeito dos fatos, no sentido de que o incêndio teria começado na base, no piso do cesto, onde teria algum pano, alguma coisa nesse sentido, e que teria começado por meio de um botijão de gás que fica no local. O extintor de incêndio não funcionou, e ele não conseguiu, então, apagar esse princípio de incêndio, que acabou levando a toda essa consequência”, disse o delegado-geral da Polícia Civil de Santa Catarina, Ulisses Gabriel.
Ainda segundo o depoimento, o piloto conseguiu aproximar o balão do solo e ordenou aos passageiros que pulassem. Ele e outras 12 pessoas conseguiram saltar, mas a redução súbita no peso fez com que a aeronave voltasse a subir. Quatro pessoas morreram ao saltar de grande altura, e quatro, carbonizadas. Três delas estavam abraçadas, segundo Gabriel. As vítimas são: Leane Elizabeth Herrmann e Leise Herrmann Parizotto, mãe e filha; Andrei Gabriel de Melo; os casais Juliane Jacinta Sawicki e Fábio Luiz Izycki, e Everaldo da Rocha e Janaína Moreira Soares da Rocha; e Leandro Luzzi.
Em nota, a Sobrevoar, empresa responsável pelo voo, lamentou o ocorrido e prestou solidariedade às famílias das vítimas, e se colocou à disposição para “auxiliar em tudo o que for necessário”. A companhia garantiu que opera segundo a legislação vigente, e que o acidente foi o primeiro ocorrido em seus passeios. “Gostaríamos também de esclarecer que trabalhamos com seriedade e cumprimos todas as normas estabelecidas pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), destacando que não tínhamos registro de acidentes anteriores”, escreveu a Sobrevoar, em comunicado divulgado nas redes sociais. A empresa informou ainda que suspendeu todas as suas operações por tempo indeterminado.
Foi o segundo acidente com balão tripulado que ocorreu no período de uma semana. No domingo passado, uma mulher grávida morreu durante a queda da aeronave, que levava 33 pessoas, em Capela do Alto, interior de São Paulo. Na ocasião, o piloto tentou pousar em um local inadequado, e fez com que os passageiros caíssem do cesto. Ele foi preso em flagrante por homicídio culposo.
Regulamentação
A Anac disse que vai apurar as circunstâncias do acidente. A agência afirmou que o balonismo é considerada uma atividade de alto risco e que não há garantias sobre as condições das aeronaves. “Trata-se de atividade considerada de alto risco, que ocorre, devido à sua natureza e características, por conta e risco dos envolvidos. As aeronaves registradas para a prática de aerodesporto não são certificadas, não havendo garantia de aeronavegabilidade”, comentou a Anac.
O Ministério do Turismo, após a tragédia, afirmou que vai discutir a regulamentação dos passeios de balão. “O objetivo é que o país já possua uma regulamentação específica e clara para a operação de voos de balão em atividades turísticas, visando garantir a segurança dos praticantes e impulsionar o desenvolvimento desse segmento no Brasil”, explicou.
O governador de Santa Catarina, Jorginho Mello, que está em viagem à China, manifestou-se com um vídeo nas redes sociais. “Estamos de luto. É uma tragédia o que aconteceu. Vamos verificar os desdobramentos, o que aconteceu, por que aconteceu”, disse. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também manifestou solidariedade às vítimas. “Quero expressar minha solidariedade às famílias das vítimas do acidente ocorrido com um balão na manhã deste sábado em Santa Catarina. E colocar o governo federal à disposição das vítimas e das forças estaduais e municipais que atuam no resgate e no atendimento aos sobreviventes”, declarou em nota oficial. Já o prefeito de Praia Grande, Elisandro Pereira Machado, decretou luto de três dias na cidade.
Fonte: correiobraziliense